quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Experienciar o Amor

            Quando o policial entrou naquele quarto, a cena que mais chamou a sua atenção não foi o brutal assassinato seguido de suicídio, mas aquela menina linda, encostada no canto da parede, com um olhar de dor e tristeza, mas, ao mesmo tempo, de serenidade.
            Que cena terrível! Aquele casal, agora morto, nunca tinha vivido bem. Desde muito jovens, ambos eram usuários de drogas. Aliás, se conheceram por causa das drogas. Os vizinhos não sabiam muitas coisas sobre eles, e não ser que tanto o rapaz quanto a moça eram drogados. E que tinham uma filha, mais nada.
            As brigas naquela casa pequena eram constantes. Os vizinhos já estavam acostumados com a gritaria e a quebradeira de coisas. Mas naquela noite a coisa foi pior do que nos outros dias. Ao ouvirem o barulho de tiro, chamaram a policia, que chegou tarde demais.
            Quando faltava a droga, o rapaz se descontrolava completamente. A moça saía para tentar consegui-la, mas nem sempre trazia a droga esperada. Naquela noite ela saiu e não conseguiu nada. Voltou de mãos vazias. Ele tinha cheirado a ultima carreira de cocaína. Estava alucinado, queria mais e mais. Não quis saber de explicações. Ele precisava de mais cocaína. Como a esposa não trouxe a droga, ele partiu para a violência física. Ela tentou se defender. Ele perdeu o controle da situação e acabou atirando certeiramente em seu peito. O terror da droga e da morte lhe provocou pavor. Acabou cometendo suicídio.
            Talita, a única filha está ali. Presencia tudo. O policial percebe a gravidade da situação e imediatamente tira a menina do quarto. É levada para o Conselho Tutelar. Não tem nenhum parente ou conhecido na cidade. Ninguém sabe nada a seu respeito a não ser por aquilo que os jornais retrataram em suas primeiras paginas.
            A pequena foi viver com uma família que teve a coragem de adotá-la mesmo sabendo de seu passado tão terrível. A mãe adotiva foi procurar o padre e pedir ajuda, já que Talita nunca tinha freqüentado igreja, não conhecia os sacramentos e nem tinha sido batizada.
            O padre ficou feliz com a atitude da família adotiva e providenciou para que a criança ingressasse num pequeno grupo de catequese. Como a historia de Talita era muito triste, o padre se encarregou de conversar com a catequista, para que a menina pudesse ser devidamente preparada e receber os sacramentos do Batismo e da Primeira Eucaristia.
            Preocupada com a nova aluna, a catequista caprichou na aula inaugural. Como Talita não sabia nada de catecismo, era preciso uma dinâmica apropriada. A catequista levou para a sala de aula uma pequena e linda imagem de Jesus Misericordioso. Colocou a imagem sobre a mesa e a cobriu com uma toalha branca.
            A criançada foi chegando e tomando lugar nas cadeiras preparadas em circulo em torno da mesa. Depois das costumeiras apresentações, a catequista disse que aquela era uma aula muito especial, já que iriam aprender sobre a pessoa mais importante do Universo.
            Para provocar as crianças, tirou a toalha que encobria a imagem e pediu que levantasse a mão direita a criança que soubesse o nome daquele homem.  Para surpresa sua, entre as crianças que levantaram a mão estava Talita.
            - Você sabe o nome dele, Talita?
            - O nome eu não sei não, professora.
            - Então, por que você também levantou a mão?
            - Porque mesmo não sabendo o nome dele, eu tenho certeza absoluta: no dia que papai e mamãe morreram, foi esse homem que ficou o tempo todo segurando a minha mão!



Pe. Léo, scj – Livro “SEGREDOS PARA A CURA INTERIOR”

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